Elio Gaspari
Atribuem ao filósofo húngaro Giorgy Lukacs
a seguinte afirmação: "O erro de Stálin não foi ter assinado um acordo com
Hitler, foi ter acreditado nele". Em 1939, Stálin aliou-se ao Reich e
comeu um pedaço da Polônia. Dois anos depois, Hitler invadiu a Rússia, e o Guia
Genial dos Povos, incrédulo, entrou em estado de catatonia.
Pensando bem, Stálin não acreditou no
pacto (tanto que acelerou a produção de armas), acreditou em si. Desprezou pelo
menos 80 avisos de que Hitler atacaria, inclusive dois deles com a data.
Lula cavalga uma desastrosa autoconfiança.
Longe dos mecanismos do poder, com os movimentos e a oratória limitados,
investiu-se de um desembaraço autocrático que, em seis meses, produziu três
desastres:
1) Sem discutir os prós e contras da ideia, participou de uma cenografia para
abrilhantar a adesão de Paulo Maluf à candidatura de Fernando Haddad à
Prefeitura de São Paulo. Humilhou Luiza Erundina e detonou a chapa petista,
levando os companheiros a catar vice até no falecido movimento
"Cansei", teoricamente destinado a combater a corrupção. (A
ex-prefeita aceitava o apoio de Maluf, desde que não houvesse espetáculos como
o do jardim do palacete da rua Costa Rica. O mesmo se pode dizer do tucanato,
que buscava intermediações para negociar com Maluf.)
2) Sem ouvir os interessados, meteu-se num périplo, catituando junto a ministros
do Supremo a postergação do julgamento do mensalão. Foi detonado pela exposição
da manobra.
3) Impôs ao PT uma aliança com o prefeito Gilberto Kassab, atropelando a
senadora Marta Suplicy, que não queria "acordar de mãos dadas" com
seu adversário. Dias depois, Lula acordou sozinho e viu Kassab abraçado ao
PSDB.
Deixando-se de lado o conteúdo das
decisões (o que não é pouca coisa), cometeu três erros. Chutou três vezes e
três vezes marcou contra o próprio gol.
A doutora Dilma acha que a crise financeira
mundial é influenciada pelo fator "Inexorável da Silveira". Seu
governo terá que lidar com outro fator, o do "Inexorável da Silva".
Por enquanto, ele restringiu-se à casa de louças petista, mas o perigo é que vá
além, encrencando o governo.
Os "inexoráveis" acham que podem
tudo.
Publicado na Folha de S.Paulo, em 24/06/2012.
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