terça-feira, 28 de agosto de 2012

Teatro político



 
 
João Felício Quirino
 
 
Diálogo 1: “Você acha que o Lula não sabia do mensalão?”. “O mensalão é uma farsa!”. “Fala sério, o Zé Dirceu ficava na sala ao lado!”. “Marcos Valério participou de reuniões na Casa Civil”. “Discutiam publicidade, contratos com o governo”. “Sarney, Renan, que laia!”. “Êpa, o Renan foi ministro da Justiça do FHC”. “E o negócio do filho do Lula, hein, como você explica?”. “Explicar o quê?”. “Lembra da Erenice, amiga da Dilma?”. “Traga-me as provas!”. “O Cachoeira que detonou esse negócio, filmou o cara dos Correios exigindo propina”. “Temos instituições, MP, STF e o escambau”. “Esse Lewandowsky e esse Tóffoli são uns vendidos”.
 
Diálogo 2: “Você acha que o FHC não sabia da compra de votos para a reeleição?”. “Nada foi provado, nada foi provado”. “Fala sério, você acredita mesmo que compraram só dois deputados?”. “Se é que compraram...”. “As privatizações, o Cacciola?”. “Repito, nada provado!”. “Claro, com essa mídia subserviente, com o Aristides Junqueira, o engavetador-geral da República, o que você queria?”. “O Cachoeira detonou o hipócrita do Demóstenes, o Perillo por tabela”. “Marcos Valério começou em Minas, com o Azeredo”. “Temos instituições, MP, STF e o escambau”. “Esse Gilmar Mendes e esse Barbosa são uns vendidos”.
 
Intimamente, o respeitável público acredita que tanto Lula como FHC sabiam dos “malfeitos” cometidos pelos respectivos aliados. Creem que mensalões e compras de votos, à direita e à esquerda, ocorreram de fato. Ainda assim, tenta-se-lhe convencer que o xis da questão é a ética, na verdade, um pretexto. Que papel!
 
Quem sabe, no próximo ato cairá a máscara?! Por que não se assume de uma vez que o problema não é ético, mas ideológico, programático? Que as falas não buscam a “depuração” das relações de poder, mas a escolha deste ou daquele modo de desenvolvimento, deste ou daquele modelo de país?
 
Por que os petistas não admitem que, sim, houve mensalão, mas preferimos um Estado que interfira mais no mercado, que promova políticas como o bolsa-família, as cotas, o Prouni? Por que não admitem que o discurso do monopólio da ética não faz mais sentido, em que pese o discurso do monopólio da corrupção não ser menos ridículo?
 
Por que não admitem os tucanos que preferem um modelo mais orientado ao mercado, ao estilo norte-americano, com o mínimo de participação estatal? Por que não admitem, ainda, que, assim como as políticas antiinflacionárias e o bolsa-família, o PT também copiou deles mensalão?
 
A política é um teatro, mas os atores não são somente “os caras de Brasília”. Nós, nos palcos da rua, do trabalho, da casa, do boteco, dos facebooks da vida, também fazemos nossa cena.
 
Atuemos, pois, como se a ética fosse nossa bandeira, quando, de fato, queremos que uns ou outros governem. Há quem espere a terceira via como quem espera Godot!
 
A todos, saudações: merda!

Nenhum comentário:

Postar um comentário