Julia Sweig
As campanhas de Obama e Romney estão
explorando um dos elementos mais antigos na política americana: nossa relação
de amor e ódio com os ricos. A mitologia sugere que amamos os ricos porque eles
representam a promessa da meritocracia: o trabalho duro pode proporcionar
riqueza a qualquer pessoa.
Mas odiamos os ricos porque desconfiamos
que eles exploraram o sistema para engordar suas contas bancárias, às expensas
do emprego ou meio de subsistência de outras pessoas.
No ano passado, os estrategistas de Obama
decidiram usar contra Romney o fato de ele ter comandado a Bain Capital. Foi
inteligente, porque Romney declara que sua maior qualificação para ser
presidente não é o período que passou como governador de Massachusetts, mas sua
experiência à frente de uma grande firma de investimentos.
A acusação básica é que muitas das firmas
que a Bain Capital comprou e reestruturou, sob a liderança de Romney,
eliminaram empregos que eram de americanos e os "terceirizaram" fora
do país.
O histórico do próprio Obama com relação à
geração de empregos tem sido fraco: ao invés disso, ele priorizou a reforma da
saúde.
Mas não é apenas Obama que é vulnerável no
quesito empregos. Bill Clinton, os líderes do Partido Democrata no Congresso e
todos os seus principais doadores em Wall Street compreendem que o capital
naturalmente busca condições ótimas --salários baixos--, e que se danem as
fronteiras nacionais.
A desregulamentação financeira, os acordos
de livre-comércio, os impostos regressivos, o passar por cima de falhas
importantes na governança corporativa e dos bancos: o Partido Democrata ajudou
a perpetuar ou legislar essas tendências que vêm ocorrendo há décadas, muitas
das quais são responsáveis pela perda de bons empregos.
Ame-o ou odeie-o, o capitalismo nos EUA é
uma questão para ambos os partidos principais. Também democratas comandam,
reestruturam e auferem as recompensas de firmas de "private equity".
Mas os dois partidos não são iguais em alguns quesitos fundamentais.
O Partido Republicano de hoje tem um nível
muito mais alto de tolerância da desigualdade, argumentando que o acúmulo
privado de riqueza em última análise traz benefícios públicos, até mesmo
sociais.
Romney critica os gastos governamentais e
o atendimento à saúde universal, que implica gastos públicos, apesar de ter
promovido as duas coisas no passado, principalmente porque, se não o fizer, sua
base não votará nele.
O drama envolvendo a Bain Capital está
ficando entediante. Ao invés disso, Obama deveria explicar a todos os eleitores
que a única maneira de renovar nossa meritocracia historicamente bipartidária é
mudar de abordagem e transformar a receita tributária gerada pela riqueza
capitalista em investimentos em elementos fundamentais de uma sociedade forte:
empregos, saúde, educação, ciência, transportes, defesa. Romney terá
dificuldade em demonstrar que o setor privado, por si só, é capaz de
realizações da mesma monta. E tem consciência disso.
@JuliaSweig
Tradução de CLARA ALLAIN
Publicado na Folha de S.Paulo, em 18/07/2012.
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