Marcos Augusto Gonçalves
Uma colega da Folha confessou outro dia que adora horário eleitoral gratuito. E pior: "Desde pequena", disse ela. Bem, natural que tenha se tornado uma afiada jornalista da área de política.
Também eu, devo admitir, e imagino que muita gente, divirto-me às vezes com os tipos bizarros da programação política. Alguns já se tornaram clássicos e mereciam figurar num "hall da fama" do gênero.
É o caso do inesquecível Enéas. O professor -que era mesmo "um crânio", como dizia outro colega- deu um banho nos sobrevalorizados marqueteiros políticos ao imortalizar seu ligeiro e eficiente bordão.
E como não lembrar de Osmar Lins, o "peroba neles!", que ganhou fama como candidato pelo Partido dos Aposentados da Nação? Ou, mais recentemente, do campeão de votos, o palhaço Tiririca?
Essa é apenas a face circense de uma instituição que se apoia na ideia de democratizar o acesso das diversas correntes políticas à TV, liberando-as de arcar com o preço que seria cobrado pelas emissoras numa campanha publicitária normal.
É bom lembrar, porém, que as TVs podem abater a maior parte do valor do Imposto de Renda. Cabe, portanto, ao Estado e, por conseguinte, a todos nós bancar a cortesia cidadã.
Mas o aspecto mais deletério do horário gratuito reside em outro ponto: o tempo de TV transformou-se em ativo político e, antes de qualquer afinidade ideológica ou programática (se é que isso ainda existe), passou a ser a principal moeda na hora de selar alianças eleitorais.
Num ambiente político-partidário cada vez mais "pragmático" (leia-se invertebrado, fisiológico e corrupto) topa-se tudo por um minuto de TV.
É hora de mudar a regra. No mínimo, reduzir drasticamente o teto de tempo possível de ser alcançado, seja qual for a quantidade de partidos coligados. Não dá para a sociedade financiar um dispositivo que se volta contra os mais elementares princípios democráticos e republicanos.
Publicado na Folha de S.Paulo, em 18/07/2012.
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