Vera Magalhães
O segundo
turno da eleição em São Paulo vai reproduzir não apenas a polarização entre
PSDB e PT, mas também um dos principais embates da campanha presidencial de
2010: a discussão, puxada por igrejas, de um assunto de cunho comportamental e
religioso em plena disputa política.
O papel
que teve o debate sobre aborto há dois anos será agora desempenhado pela
discussão em torno do chamado "kit gay", material didático que foi
encomendado pelo Ministério da Educação sob a gestão de Fernando Haddad com a
justificativa de combate à homofobia nas escolas.
O kit foi
atacado por várias denominações religiosas, que viram na iniciativa uma forma
de incitar a homossexualidade entre crianças e adolescentes.
A
polêmica que se seguiu à divulgação do projeto foi enorme e atingiu a bancada
evangélica do Congresso, que ameaçou retaliar o governo em votações caso o
material não fosse suspenso. Dilma Rousseff mandou suspender o lançamento, e
Haddad nega a paternidade da proposta, mas o estrago foi feito.
Usado
ainda com parcimônia no primeiro turno, em que o mensalão e a aliança com Paulo
Maluf foram os maiores telhados de vidro de Haddad, o "kit gay" volta
com força agora, já que uma das estratégias do PSDB será evitar que o petista
se beneficie do voto evangélico -na primeira etapa foi depositado
majoritariamente em Celso Russomanno.
O
material já levou, por exemplo, igrejas evangélicas com peso, como a Assembleia
de Deus, a apoiar José Serra. Também deve dificultar a adesão da Igreja
Universal do Reino de Deus, braço religioso do PRB de Russomanno. O partido
deve se limitar a um apoio protocolar, no campo apenas institucional.
Do lado
tucano, os ataques de cunho religioso não deverão nunca ser enunciados por
Serra, que em 2010 também evitou ser o responsável por vocalizar a ambiguidade
de Dilma Rousseff quanto à descriminalização do aborto.
Serão as
igrejas e os aliados do tucano que vão se incumbir de associar o petista ao kit
encomendado pelo MEC.
A
campanha petista já discute um antídoto para evitar que Haddad fique preso às
cordas, na defensiva, respondendo ora sobre mensalão ora sobre "kit
gay".
Questionado
no debate da Folha/RedeTV! sobre o tema, Haddad mais uma vez procurou se
desvincular do kit, mas não foi taxativo ao dizer que não adotará material
semelhante na prefeitura, caso eleito. A defesa da diversidade sexual e o
combate à intolerância são bandeiras históricas do PT, que têm na ex-prefeita
Marta Suplicy uma referência.
Qualquer
manifestação do candidato esbarraria nessa convicção petista e poderia afastar
outra parcela do eleitorado do ex-ministro, formada por intelectuais e
acadêmicos da esquerda.
Ainda
assim, apoiadores de Haddad defendem que ele dê uma declaração definitiva e
imediata sobre o assunto, dizendo que a prefeitura não levará a discussão
anti-homofobia às escolas municipais.
Assim
como em 2010, a pauta religiosa está de volta aos palanques.
Publicado na Folha de S.Paulo, em 10/10/2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário