Entrevista com Tarso Genro
O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, era ministro da Educação
em 2005, quando o escândalo do mensalão estourou. Chamado pelo então presidente
da República Luiz Inácio Lula da Silva, assumiu a presidência do PT para tentar
tirar o partido da crise em que mergulhara depois que boa parte da sua cúpula
foi pega usando recursos públicos para comprar apoio no Congresso.
Sete anos depois, Tarso vai mais uma vez na contramão da cúpula ao
defender o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal como legítimo, em
que todos tiveram direito de defesa, e aceitar que, "sem dúvida",
estão sendo julgadas pessoas que cometeram ilegalidades.
O governador petista também acredita, ao contrário do ex-presidente
Lula, que o julgamento teve influência, sim, nas eleições deste fim de semana,
mesmo que o grau dessa influência possa variar.
* * *
O senhor foi chamado a assumir a presidência do PT quando estourou o
escândalo do mensalão, com a obrigação de tentar reorganizar o partido. Sete
anos depois, em meio a uma eleição municipal, como o senhor está vendo esse
julgamento que chega agora a alguns dos nomes mais importantes do PT?
Essa questão do mensalão tem dois processos. Um é o judicial, que
devemos tomar como um processo dentro do Estado de direito, democrático, cujo
desenvolvimento e resultado têm que ser respeitados, sejam eles quais forem.
Esse processo judicial foi feito dentro dos parâmetros completos da legalidade.
Ninguém sofreu violência para depor, ninguém teve seu direito de defesa negado,
nenhum juiz foi pressionado, seja pelo Estado, seja pela autoridade policial
para tomar qualquer atitude. Então, este é um processo que deve ser tomado como
um exemplo para o País. Em outras oportunidades isso não foi feito. O caso mais
gritante é o processo sobre a compra de votos para reeleição de Fernando
Henrique. O segundo aspecto é um processo paralelo de disputa política sobre os
acontecimentos. E nesse sentido eu acho que há uma profunda desigualdade, que é
o fato de 90% da grande mídia fechar uma posição favorável à condenação e fazer
uma campanha sistemática de culpabilização de todos, sem qualquer tipo de
reserva. Isso tem consequências políticas.
O senhor acredita na culpa das pessoas que estão sendo julgadas pelo
Supremo?
Que tem pessoas que cometeram ilegalidades, não tenho nenhuma dúvida.
Seria debochar da Justiça do País e do processo dos inquéritos policiais achar
que todo mundo é inocente. O que eu critico é o fato que houve uma inculpação
em grupo feita pela mídia, repercutindo inclusive na comunidade política como
um todo. O meu partido é visto hoje, graças a essa campanha, como o partido do
mensalão, e o PSDB não é visto como o partido que teria engendrado - e não
estou dizendo que o fez - a compra de votos para reeleição do presidente
Fernando Henrique.
Nessa reta final serão julgados José Dirceu, José Genoino e Delúbio
Soares, que têm ou tiveram um peso grande no partido. O senhor acredita na
culpa deles?
Acho que tem uma pessoa que assumiu responsabilidades, que se chama
Delúbio Soares. O Delúbio assumiu responsabilidades e atribuiu isso à
existência de um caixa 2. Quanto ao José Genoino e ao José Dirceu, eu
desconheço as provas. Não estou dizendo que são culpados ou inocentes, apenas
que desconheço as provas para caracterizar a responsabilidade material dos
dois.
O senhor avalia que o mensalão teve peso nos resultados dessas eleições
municipais?
Teve, em diferentes circunstâncias, em diferentes regiões. Quando a
gente fala que teve efeito no processo eleitoral, não quer dizer que tenha o
mesmo efeito em todo o território e mesmo que nesse território tenha efeito
uniforme. O que ocorre é que, em determinadas circunstâncias, as bases
eleitorais dos partidos são mais ou menos atingidas de acordo com a
sensibilidades locais. Um exemplo bem claro: aqui em Canoas (zona metropolitana
de Porto Alegre) essa questão não teve efeito nenhum. Foi usada e não teve
efeito nenhum. Mas aqui, na classe média de Porto Alegre, eu diria que sim. É
uma classe média liberal, democrática, não é de esquerda e nem tem simpatia
preliminar pela esquerda. Então, setores da classe média decidiram votar em
outros setores de esquerda e centro-esquerda que não o nosso, motivados
possivelmente pela influência do mensalão.
Publicado em O Estado de S.Paulo, em 09/10/2012.
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