Janio de Freitas
A solução
de dar a José Serra a presidência do PSDB, noticiada como reação dos
peessedebistas à sua prenunciada derrota na eleição paulistana, é mais do que
um jogar precipitado da toalha de nocaute político.
A
presidência de um partido não é prêmio de consolação. E muito menos o seria a
presidência do PSDB, cuja perda de expressão entre as forças políticas tem a
ver com José Serra, mas é anterior à disputa pela Prefeitura de São Paulo. A
formação de direções partidárias por arranjos e interesses subalternos é,
aliás, um dos fatores importantes na degeneração do sistema político
brasileiro.
Os
figurantes de mais relevo dentro do PSDB não se dão conta de que o seu partido
está em uma encruzilhada, falta de percepção que o razoável desempenho nas
eleições municipais vem acentuar. Não são muitas as hipóteses de futuro
oferecidas ao PSDB. Nem muito tempo para definir o que é capaz de vir a ser,
por meio do que seus integrantes influentes sejam capazes de querer e de fazer.
Uma das
hipóteses é a volta do PSDB às suas origens, de partido com o propósito de
representar ideias de social-democracia e de reformas democratizantes e
moralizantes da política brasileira. Aquilo mesmo que levou Franco Montoro e
Mario Covas a deixarem o PMDB de suas tantas batalhas.
A
alternativa àquela hipótese, para o PSDB, é continuar no jogo de patotas em que
se mediocrizou, tornando-se a bandeira do neoliberalismo por aqui, e logo
descambando para a posição de centro-direita, como representação política do
mercadismo e dos negócios financeiros. Por esse caminho tomou o lugar do hoje
fantasmagórico PFL-DEM, e, pelo mesmo caminho, não é provável que tarde muito a
chegar ao mesmo destino.
Se José
Serra é capaz de fazer algo pelo PSDB, não sei dizer. Mas é certo que a tarefa
não poderia ser de um só, e José Serra é um desagregador notório, como
demonstrou em sua longa contribuição para o desarranjo interno do partido (só
as suas brigas com os então senadores e dirigentes Tasso Jereissatti e Sérgio Guerra
e com Aécio Neves já exemplificam o suficiente).
Gente em
condições de recuperar o PSDB, se tal vier a ser o desejo dos que vivem à sua
sombra, é material escasso -para dizer o mínimo a respeito. Carência comum a
todos os partidos, em dimensões variadas. Com dificuldade adicional no PSDB: as
inconvivências internas, muito agudas, desgastaram todos os que têm alguma
presença no partido. E, afinal de contas, eles são os que demoliram o projeto
PSDB.
Publicado na Folha de S.Paulo, em 23/10/2012.
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